Quão rapidamente pode variar o desempenho de uma candidatura?



As preferências do eleitorado por uma ou outra candidatura variam ao longo do tempo, como esperado. Mas essa variação não é, usualmente, muito rápida.

Durante a maior parte do tempo, variações significativas das preferências do eleitorado só são perceptíveis em um período de algumas semanas, ou mesmo, muitas semanas. Isso pode ser verificado nas análises de pesquisas eleitorais apresentadas em outro post deste blog, bem como em diversas sistematizações feitas por vários organismos, como as da Wikipédia, nos verbetes correspondentes às pesquisas eleitorais em diversos países (buscar pelo Google usando as palavras "election" e "polls" seguidas dos nomes do país desejado e da palavra Wikipedia).

Essas lentas variações não são perceptíveis pelas pesquisas eleitorais no curto prazo, pois são totalmente camufladas pelas flutuações estatísticas e por outras variações típicas dessas pesquisas.

Apenas nas últimas semanas das campanhas as variações parecem ser mais rápidas. A figura abaixo, por exemplo, mostra o desempenho das três principais candidaturas ao longo do tempo na França, 2022. 



Ao longo de todo o período, as preferências eleitorais, no caso das eleições na França em 2022, primeiro turno, variaram lentamente. Mudanças mais rápidas, da ordem de 1 ponto percentual ao dia para o candidato Mélanchon, de 0,6% ao dia para Le Pen e de menos 0,3% ao dia para a candidatura Macron, só ocorreram nas últimas semanas. 

Essa rápida variação das preferências dos eleitores nos últimos dias, com intensidade muito maior do que tinha sido até então ao longo da campanha, pode ser devida  a uma espécie de voto útil", tanto à direita como à esquerda ou à intensificação das mobilizações de militantes e de outros agentes de propaganda.

As eleições de 2018 no Brasil ilustram uma situação similar. Ao longo das campanhas, as preferências pelas candidaturas permaneceram praticamente inalteradas, mas nas últimas 3 ou 4 semanas, houve uma forte variação, como mostra a figura abaixo (da Wikipédia, verbete "Eleição presidencial no Brasil em 2018"). Nas últimas semanas, a candidatura Haddad aumentou cerca de 1% ao dia enquanto a outra candidatura aumentou cerca de 0,7% ao dia. 

Tal situação foi, possivelmente, fruto de uma intensificação das disputas: se, de um lado, houve um claro aumento da militância em favor da candidatura Haddad nas últimas semanas, do outro lado, é possível que esse aumento da militância tenha provocado uma reação dos grupos defensores de  uma candidatura mais à direita.



Segundo turno Brasil 2018

O segundo turno de 2018 também apresentou uma característica similar, com uma forte variação da preferência do eleitorado em um período curto. A figura a seguir é do mesmo verbete da Wikipédia já citado.




Nos últimos dias antes do dia 28/10, data do segundo turno, a diferença entre as candidatura Haddad e a outra foi rapidamente reduzida, de cerca de 20% para cerca de 10%, tendo uma das pesquisas mostrado até mesmo um possível empate (fruto das flutuações estatísticas e de outras características das pesquisas eleitorais; veja aqui).
Essa intensa variação na diferença entre as preferências pelos dois candidatos é mostrada na figura abaixo, A diferença apurada na eleição foi de 10%.


Conclusão

Não há variações significativas ao longo das campanhas, com exceção das últimas poucas semanas. 

Ao longo do período, as pequenas variações são encobertas pelas flutuações estatísticas e pelas diferentes metodologias adotadas pelas instituições de pesquisa eleitoral.

Mesmo as mais intensas variações, aquelas que ocorrem nas últimas semanas ou mesmo últimos dias antes das eleições, raramente atingem 1% ao dia.

As empresas de pesquisa eleitoral costumam divulgar os resultados chamando a atenção para as variações em relação às últimas pesquisas feitas por elas, induzindo a leituras irrealistas.













Nenhum comentário:

Postar um comentário